sábado, 4 de fevereiro de 2012

Recordações



Longo, lento, infindável o crepúsculo.
Na larga enseada uma tinta imprecisa
antes do lusco-fusco
insinua-se em tudo, esmaiada.
Corre um brusco arrepio de brisa,
encrespa-se de leve a água vidrada.

Difuso em tudo, o ouro da luz de outono
resiste, como a clara
recordação de um longo dia para
e ainda hesita, antes da noite e o sono.

Escurecer que é quase amanhecer...
Um não sei que de claridade escura
diluído em tudo, em tudo arde e perdura:
já é quase noite o longo dia
a noite espera e sonha: ainda é dia.
Lá no alto, o adeus da tarde que ficou...
É dia ainda, o sol acorda agora
no largo oceano o sono de outra aurora,
mas derrama no seio do meu rio
todo o ouro do dia que passou.
Serena esta luz de ouro em meu outono:
recordação, antes do grande sono...


Augusto Meyer
Poesias, 1957

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