segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Desejos


Desejo a você Fruto do mato 

Cheiro de jardim, Namoro no portão, 

Domingo sem chuva Segunda sem mau humor 

Sábado com seu amor 

Filme do Carlitos Chope com amigos

Crônica de Rubem Braga 

Viver sem inimigos 

Filme antigo na TV Ter 

Uma pessoa especial 

E que ela goste de você Música de Tom com letra de Chico 

Frango caipira em pensão do interior 

Ouvir uma palavra amável 

Ter uma surpresa agradável 

Ver a Banda passar Noite de lua Cheia 

Rever uma velha amizade 

Ter fé em Deus 

Não Ter que ouvir a palavra não 

Nem nunca, nem jamais e adeus. 

Rir como criança Ouvir canto de passarinho 

Sarar de resfriado 

Escrever um poema de Amor Que nunca será rasgado

Formar um par ideal 

Tomar banho de cachoeira 

Pegar um bronzeado legal 

Aprender um nova canção 

Esperar alguém na estação 

Queijo com goiabada 

Pôr-do-Sol na roça 

Uma festa 

Um violão 

Uma seresta 

Recordar um amor antigo 

Ter um ombro sempre amigo 

Bater palmas de alegria 

Uma tarde amena 

Calçar um velho chinelo 

Sentar numa velha poltrona 

Tocar violão para alguém 

Ouvir a chuva no telhado Vinho branco Bolero de Ravel 

E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade


A saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. 

Saudade da presença, e até da ausência consentida. 

Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. 

Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. 

Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. 

Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, 

Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga, 

Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. 

Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. 

Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. 

Não saber se ela ainda usa aquela saia. 

Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu. 

Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; 

se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; 

Se ele continua preferindo Malzebier; se ela continua preferindo suco; 

Se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; 

Se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; 

Se ele continua cantando tão bem; se ela continua detestando o MC Donalds; 

Se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! 

Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; 

não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento; 

não saber como frear as lágrimas diante de uma música; 

não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. 

Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. 

É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... 

É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. 

Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer; 

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, 

provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

 

Miguel Falabela