segunda-feira, 3 de setembro de 2012



A saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. 

Saudade da presença, e até da ausência consentida. 

Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. 

Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade, mas sabiam-se onde. 

Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã. 

Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, 

Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga, 

Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. 

Saudade é basicamente não saber. Não saber mais se ela continua fungando num ambiente mais frio. 

Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia. 

Não saber se ela ainda usa aquela saia. 

Não saber se ele foi à consulta com o dermatologista como prometeu. 

Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; 

se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial; se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; 

Se ele continua preferindo Malzebier; se ela continua preferindo suco; 

Se ele continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados; 

Se ela continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor; 

Se ele continua cantando tão bem; se ela continua detestando o MC Donalds; 

Se ele continua amando; se ela continua a chorar até nas comédias. Saudade é não saber mesmo! 

Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos; 

não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento; 

não saber como frear as lágrimas diante de uma música; 

não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. 

Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. 

É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... 

É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. 

Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer; 

Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, 

provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

 

Miguel Falabela

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